sábado, 28 de maio de 2011

A espera...


Quem não foi criança um dia?! Quem não ouviu um não, e chorou copiosamente?! Quem não descobriu ainda o significado da palavra "ESPERA"?!

Lembro-me bem de uma cena em minha vida, que vez ou outra vem vaguear por minhas lembranças, e ontem recordei mais uma vez.

Meus pais sempre trabalharam muito para que tivéssemos todo o conforto, quando eu tinha por volta das 7 anos, morávamos em Brasília, minha mãe estava grávida da caçula de nossa família; um dia perdido em datas, durante as férias do mês de Janeiro, meu pai nos levou as Lojas Americanas, recordo que sempre via no comercial uma bonequinha fantástica, e foi amor a primeira vista, não sabia mais nada, apenas que eu queria ela pra mim, no fim do ano, após o termino do ano letivo, eu devidamente aprovadas, imaginava que seria ela meu presente de Natal, que para meu espanto e desilusão não o foi, ganhei uma máquina de costura da Estrela, muit linda por sinal.

Mas aquele era o dia, estávamos na loja, meu pai muito bem humorado, diga-se de passagem, minha mãe com um barrigão enorme e parecia que ia explodir! Mas aquele era meu dia, pensava eu, absorta em meus pensamentos e vagueando as sessões em busca da minha boneca.

Eu bem que já sabia, o método que seria utilizado, para consegui-la, com minha mãe usaria o método emocional, choraria até os soluços caso a resposta fosse negativa ao meu pedido (ela sempre se comprasia e me dizia SIM, logo após o rio de lágrimas que ela atravessava).

Com meu pai, de forma diferente, usaria o método racional, daria a eles razões, que me fariam, merecedora de tal presente, e acabaria o convencendo (fato que sempre acontecia, por que ele se rendia aos meus argumento infantis, seguidos de OLHOS BRILHANTES e um: VAI PAIIIINHO).

Mas nesse dia tudo aconteceu totalmente diferente...

Meu pai caminhava ao lado da minha mãe qque carregava minha irmã Mislene, que tinha quase 2 anos nessa época, conversam enquanto eu lampeja e fagueira emprurrava o carrinho ansiosa, afinal chegaria a hora, e eu ouviria um SIM e meu objeto de desejo enfim seria meu...

De repente, meus olhos a encotraram, lembro como se fosse hoje, larguei o carrinho e corri em direção a partilheira, e lá estava ela, linda colorida, com sua sainha de tula furta cor, era ela, a boneca do comercial, a minha boneca, gritei atônita: PAIIIIIINHO... se ele não ouvisse, estaria surdo com certeza, por que todos que estavam próximos olharam. Pulei, pulei, pulei tantas vezes que senti o suor escorrer por minha fronte.

E disse ao ver meu pra próximo a mim: PAINHO, NÃO É LINDA?!

-É SIM MICHELINE(respondeu meu pai)

-O SENHOR ME DÁ ELA?!

De repente, fez-se o silêncio... Ele me olhou e nada disse... Senti que algo estava acontecendo...

-VAI PAIIIIINHO...POR FAVOR....(olhei com os famosos olhos brilhantes)
-EU PASSEI DE ANO NÃO FOI?! OLHA PROMETO QUE NÃO BAGUNÇO, E AJUDO MAIIINHA COM AS COISAS DE CASA E OLHO MISLENE, E PROMEEEETO, PROOOOMETO...QUE PASSO DE ANO...

Ele olhou pra mim e para minha mãe, que também nada disse. Então me virei na direção de minha mãe e chorei copiosamente, até chegar aos soluços angustiantes que cortam até o mais duro dos corações. Mas eles nada disseram a não ser: Minha filha essa não é a hora.

Aquela resposta com certeza não era a que eu queria ouvir no momento. Eu queria tanto a boneca!

Caminhamos pelos corredores da loja, eu ainda soluçado baixinho pela decepção e a frustração de estar saindo dali sem o que eu mais queria, não conseguia compreender...

Meu pai e minha mãe tinham ido lá comprar as coisas para o enxoval da minha irmã que ia nascer, mas eu não compreendia que aquele não era o meu momento, e sim o dela, já que todos nos preparávamos para sua chegada.

Cheguei em casa amuada, cabisbaixa, no jantar remexi na comida e sem fome deixei quase tudo no prato, e desanimada fui pro quarto.

Os dias se passaram, e quando via o comercial até virava a cara, nem queria ver mais... minhas coleguinhas ganharam as suas e eu lá de mãos vazias.

Chegou o mês de Junho, exato dia 23, e minha irmã nasceu. Nossa, ela era careca, preta e pequena(risos), de tão pequenina parecia uma boneca!

Meses se passaram, e chegou mais um fim de ano, onde mais uma vez, fui aprovada... O Natal se aproximava, e aquela boneca já tinha deixado de ser meu objeto de desejo; mas vale salientar que depois do meu rompante emocional dentro da loja, nada mais havia me enfeitiçado como ela...

Meu pai me pergunta: QUER ALGO ESPECIAL DE NATAL?!

-QUALQUER COISA TÁ BOM! (eu respondi)

-QUALQUER COISA MESMO?! TEM CERTEZA?!

-SIM PAINHO...

Na manhã de Natal do ano de 1984, quando abro os olhos, ao lado da minha cama, tinha uma enorme caixa; olha gente quando digo enorme, era ENORME, da minha altura na época. Lembro de ter saltado da cama, avancei, rasguei papel... papel... papel.... e gritei: PAIIIIINHO.... MAIIINHA!!

Meus olhas não conseguiam se desviar dela... Não era com certeza a boneca que tanto queria no mês de Janeiro, ela era muiiito maior, linda, de longos cabelos loirinhos e olhos azuis, ela tinha a minha altura, e quando eu apertava em suas mãos ela dava passos... incrível!!

Lembro da alegria dos dias e meses que se seguiram, levei ela diversas vezes para a casa da minha amiga Stella, que acabou ganhando uma igual, usando o método emocional com sua mãe (kkkk), anos se passaram minha vida seguiu e hoje estou aqui....

¬¬ A ESPERA
Nada aprendi naquela época, sendo apenas uma criança aquilo nada significava...

Há alguns anos vim descobrir o que realmente havia de lição naquele fato de minha vida...

Nós sempre desejamos muitas coisas durante toda vida, isso não é diferente, todos somos iguais nisso, queremos, pedimos, esperamos... e nos decepcionamos, quando as coisas não acontecem como queremos...

Num determinado dia de minha vida, me peguei repetindo com Deus a mesma cena da minha infância, e como aquela menininha, pedia algo que para mim era importante naquele momento, mas em nenhum instante perguntei se aquela era a hora certa, e quando apenas o silêncio veio como resposta, e me vi de mãos vazia; repetiu-se, era eu Micheline, adulta, que fazia um reprise dos velhos tempos, e mais uma vez, não compreendia o porquê...

Foi quase do mesmo jeito, passaram dias, semanas, meses... e num determinado dia aconteceu algo muito maior e melhor do que o que eu havia pedido antes...

Naquele instante percebi, a semelhança entre tudo o que aconteceu... Percebi que não sabemos esperar... e isso é fato!

Ás vezes queremos muito algo em nossa vida, mas não paramos para pensar se naquele momento, aquilo é o melhor para nós, o ser humano é muito imediatista, não importa classe social, cor de pele, religião, nosso tempo é o AGORA. Com tudo isso aprendi que nem sempre o meu tempo é o TEMPO certo, nem sempre o que imagino ser bom, verdadeiramente o é, aprendi que se algo naquele momento não nos acontece, com certeza ao melhor estar por vir...

Certos acontecimentos de minha vida me amortizaram, e os NÃOS que a vida me dá já não me ferem e me abalam tanto, buscar compreender o valor dessa espera, me faz continuar meu caminho.

Esperar não é fácil, é tempo difícil, muitas vezes silencioso e solitário, mas sempre caminhamos e a vida sempre segue seu curso, e mais dia menos dia tudo acontece. Pode ser que não seja do jeito que imaginamos, pode ser ainda melhor...

Minhas esperas geram sempre em mim a ESPERANÇA, a
expectativa de um bem que eu desejo, e ela não decepciona! Confesso que hoje espero algumas coisas, não sei o que acontecerá, mas sei que algo grandioso sempre acontece!

Que todos nós aprendamos a esperar mesmo que essa seja uma das mais difíceis lições de nossas vidas...


Abraços meus queridos!

Voltem sempre!

Mihh Valério